Revista de Ciencias Empresariales y Sociales. Vol. 9, N°6, 2023 (Enero-Julio)
ISSN electrónico 2618-2327 (26-40)
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Biblioteca Humana: desafiando os estereótipos e contribuindo com a
empatia
Corinne Julie Ribeiro Lopes
1
csmilec@hotmail.com
Fecha de recepción: 14 de Febrero de 2023
Fecha de aceptación: 12 de abril de 2023
ARK CAICIT: ark:/s26182327/pk2a7qvje
Resumo
Este artigo apresenta o processo de construção e realização do evento nomeado Biblioteca
Humana, iniciativa encabeçada pela Escola de Empatia, em parceria com a Human
Library Organization, e pretende dialogá-lo com os conceitos de estereótipo e empatia.
De origem dinamarquesa, a ideia desse evento, já realizado em mais de 80 países e, nessa
oportunidade, inserido no 3º Festival de Empatia, organizado pela Escola de Empatia, em
formato on line, foi proporcionar uma reflexão acerca dos estigmas e estereótipos
disseminados pelo mundo. A experiência possibilitou aos participantes entrar em contato
com pessoas e suas histórias, marcadas por vivências relacionadas à violência doméstica,
ao poliamor, ao sistema prisional, ao HIV/Aids e à prostituição. A Biblioteca Humana
demonstrou ser uma ferramenta importante no desenvolvimento da empatia.
Palavras-chave: Estereótipo, Empatia, Biblioteca Humana.
Abstract
This work presents the building and implementing process of the event named Human
Library, initiative of the Escola de Empatia, in partnership with Human Library
Organization, and intends to dialogue it with the stereotype and empathy concepts.
1
Mestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local (UNA-BH), pós-graduada em Gestão
Social (Fundação João Pinheiro) e Bacharel em Direito (FUMEC)
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Starting at Denmark, the objective of this event, realized at more than 80 countries, and
at this opportunity, inside at the third Empathy Festival - on line format, was to reflect
about the stigmas and stereotypes spread all over the world. The experience provided to
the participants being in touch with people and their storyes, related to domestic violence,
polyamory, prisional system, HIV and prostitution. The Human Library proved to be an
important tool at the empathy development.
Key words: Stereotype, Empathy, Human Library.
Resumen
Este trabajo presenta el proceso de construcción y realización del evento nombrado
Biblioteca Humana, iniciativa de la Escola de Empatia, en parceria con Human Library
Organization, y intenta dialogarlo con los conceptos de estereotipo y empatía. De origen
dinamarquesa, la ideia de ese evento, ya realizado em más de 80 países y, en esa
oportunidad, por ocasión del Festival de Empatía, organizado por la Escola de Empatia,
en un formato on line, fue proporcionar una reflexión sobre los estigmas y estereotipos
em el mundo. La experiencia permitió a los participantes ponerse en contato con personas
y sus historias, marcadas por cuestiones como la violencia doméstica, poliamor, sistema
prisional, HIV/Aids e la prostitución. La Biblioteca Humana demostró ser una
herramienta importante en el desarrollo de la empatía.
Palabras clave: Estereotipo, Empatía, Biblioteca Humana.
Introdução
Este artigo tem como propósito compartilhar a experiência do evento Biblioteca Humana
realizado, em formato on line, em função da pandemia da COVID-19, durante a tarde do
dia 25 de julho de 2021 dentro do Festival de Empatia. O Festival de Empatia é uma
realização anual da Escola de Empatia, empresa dedicada a desenvolver habilidades de
empatia, cuidado e sustentabilidade, através de um modelo de aprendizagem horizontal e
dialógico.
O Festival de Empatia tem como propósito celebrar a empatia de formas diferentes
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e provocar reflexões e práticas de autocuidado e conexão, alinhadas à Comunicação Não
Violenta, uma abordagem vinculada à Psicologia Humanista.
A intenção da equipe anfitriã do Festival em hospedar esse evento esteve
relacionada à admiração com a iniciativa e à crença de que a experiência poderia
contribuir com uma mudança de cultura por meio do convite à prática de empatia e
compaixão. A Escola de Empatia acredita que essa prática desses conceitos é uma forma
de melhor fazer parte do mundo.
A Biblioteca Humana é uma metodologia criada na Dinamarca pela Human
Library Organization, organização não governamental. É uma biblioteca de pessoas, onde
os livros não são páginas, mas histórias reais verbalizadas. Nessa biblioteca, montada a
partir de demandas de grupos ou organizações, a ideia é que os leitores façam o
empréstimo de outros seres humanos, que se prontificam a estarem abertos na condução
de diálogos que, normalmente, muitos não teriam acesso.
Todo livro humano dessa biblioteca representa um grupo da sociedade que é,
constantemente, alvo de preconceito, estereótipo, ou discriminação por conta de seu estilo
de vida, diagnóstico, crença ou deficiência, status social ou origem étnica.
Nesse artigo, serão apresentadas as bases conceituais que norteiam a concepção
do evento, e um guia para a organização de eventos desse teor, além de relatar o processo
de organização da experiência, e aportar os dados de uma pesquisa de avaliação
conduzida. Fazer parte da Biblioteca Humana afetou, não somente os leitores, mas a
equipe organizadora da experiência; e mostrou-se uma ferramenta potente de empatia.
Estereótipos e empatia
Partindo do pressuposto de que o ser humano não é um ser passivo, mas um ser
processador de informações, não se pode perder de vista que as informações, as mesmas,
que tornam o sujeito ativo, também o apresentam a um sistema de crenças e estereótipos.
Nessa linha de pensamento, diversas correntes teóricas têm estudado os vínculos
entre os processos biológicos básicos e os fenômenos sociais, tais como a teoria da
dissonância cognitiva, a teoria da aprendizagem social, a teoria da psicologia cultural, a
teoria da representação social e a teoria da cognição social. Essa última teoria afirma que
a mente é um sistema de crenças e dialoga com um conceito importante a esse trabalho,
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que é o conceito de estereótipo.
Pode-se afirmar que o estereótipo é fruto de um aprendizado social, não é racional
e pode levar a um círculo vicioso, uma vez que se concretiza como uma forma rápida de
fazer inferências.
A partir do senso comum, podemos definir o estereótipo como uma ideia
ou conceito que se forma de algo ou alguém de modo apriorístico. Nessa
perspectiva, pode ser tomado como sinônimo de preconceito - ou como a repetição
indiscriminada ou sem questionamento de modelos pré-estabelecidos de cunho
moralista (Goulart et al, 2019, p 112).
Amossy e Herscheberg-Pierrot (2001) definem o estereótipo como uma crença,
opinião ou representação relativa a um grupo e seus membros lembrando que esse
conceito “não é um conceito teórico absoluto e eterno, mas uma noção própria da época
moderna, mais especificamente da era das mídias”, segundo Florencio (2011, p.13).
Apesar do fenômeno participar da construção da identidade social, ele também
está intrinsecamente relacionado à existência do preconceito e da discriminação, e à
construção dos rótulos, o que pode ser muito perigoso do ponto de vista relacional.
Por essa razão, e como contraponto importante para a desconstrução desse
constructo, será abordado, agora, o conceito de empatia, função cognitiva e social, inata
ao ser humano e fundamental para a nossa vida social.
El término “empatía” es en realidad una traducción del término alemán
"Einfühlung", que Lipps propuso en primer lugar para describir la relación entre
una obra de arte y su observador. Luego, amplió este concepto para que englobara
las interacciones entre las personas: interpretó nuestra percepción de los
movimientos de los demás como una forma de imitación interna y utilizó el
ejemplo de observar a un acróbata suspendido en la cuerda floja alta, por encima
de las butacas del circo. Lipps afirma que cuando miramos al acróbata en la cuerda
sentimos que nosotros mismos estamos dentro del acróbata. Su descripción
fenomenológica de la observación del acróbata es predictiva a escala escalofriante
del patrón de actividad que muestran las neuronas espejo, las cuales se activan
tanto cuando tomamos un objeto como cuando vemos que alguien toma un objeto,
como si estuviéramos dentro de esa persona (Iacoboni, 2009, p.4).
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Segundo Brown (2012), são 4 (quatro), os elementos da empatia: i) habilidade de
colocar-se no lugar do outro e admitir seu ponto de vista como válido e real; ii) não
formulação de juízos de valor acerca da sua experiência com o outro; iii) identificação da
experiência emocional da outra pessoa; e iv) aceitação respeitosa e expressão verbal dessa
aceitação compartilhada com o outro.
Outra contribuição importante sobre essa função cognitiva e social, foi a de Carl
Rogers: “ser empático é ver o mundo através dos olhos do outro e não, ver o nosso mundo
refletido em seus olhos.”
Do ponto de vista científico, a empatia ocorre, em nosso corpo e cérebro, de forma
emocional e cognitiva. Empatia emocional refere-se à habilidade de se conectar e
compartilhar (sentir ou agir) conforme as emoções alheias. É o modo como absorvemos
ou imitamos os sentimentos e expressões alheias. a empatia cognitiva é a habilidade
de, racionalmente, imaginar e entender o que o outro deve estar sentindo ou pensando
desde a perspectiva do outro. Enquanto a empatia emocional é facilitada pela existência
de neurônios espelho, a empatia cognitiva envolve partes mais amplas do cérebro.
Na última década, os neurocientistas descobriram um circuito de empatia em
nosso cérebro, composto por dez conexões, que, uma vez danificado, pode diminuir nossa
habilidade de entender o que outras pessoas estão sentindo. Outra descoberta recente da
neurociência é que o nosso cérebro é plástico; ou seja, adapta-se aos estímulos que recebe.
Dessa forma, por acreditar ser importante treinar a empatia e a musculatura
relacional para ela se fortaleça e se torne algo mais natural, foi organizado o evento
Biblioteca Humana. A ideia foi que os leitores, em um contato mais próximo com
realidades convencionalmente estereotipadas, como a questão da violência doméstica, do
sistema prisional, do HIV/Aids, dentre outras, pudessem repensar seus olhares e revisitar
as pessoas, menos sob a perspectiva do estereótipo, e mais, sobre a perspectiva da
empatia.
Como organizar esse evento
Atualmente, a metodologia da Biblioteca Humana é de propriedade intelectual da Human
Library Organization (HLO) e para sediar um evento, os organizadores precisam
preencher um formulário de aplicação, que fica hospedado no site da instituição:
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https://humanlibrary.org/. Além disso, é preciso pagar uma taxa em dólares para a cessão
de uso da metodologia ou solicitar uma bolsa; a Escola de Empatia solicitou e foi
beneficiada com uma bolsa.
Dentre as perguntas a serem respondidas no questionário, pergunta-se (i) a razão
de a organização querer sediar um evento ou usar a metodologia; (ii) quais estereótipos
se pretende abordar no evento; e pede-se uma expectativa do número de livros e de
leitores que farão parte da experiência. É importante dizer que, para efeitos mais potentes,
a Biblioteca foi pensada para acontecer de forma presencial, mas, com a chegada da
pandemia da COVID-19, hoje, boa parte dos eventos já ocorrem em formato on line.
Uma vez aprovada a inscrição, é feito um contrato com assinatura de ambas as
organizações (de um lado, a HLO, e, de outro, a Escola de Empatia). Na sequência, a
organização que sediará a experiência recebe um pacote de materiais contendo:
Manuais de marca
Identidade visual do projeto
Código de ética, conduta e comportamento do projeto
Guia de construção de orçamento do projeto
Guia de recrutamento de livros passo-a-passo
Guia de pilares de preconceito
Manual descritivo das funções e responsabilidades dos
organizadores
Manual adaptativo para o formato on line.
É importante dizer que todos os materiais vêm em inglês.
Da seleção dos livros ao dia do evento
A ideia de organizar uma Biblioteca Humana no Festival de Empatia nasceu de leituras
prévias sobre a experiência, por uma das organizadoras do evento, que entrou em contato
com a Human Library Organization e, na sequência, solicitou a ela, o contato de alguma
organização no Brasil que havia realizado o evento, para uma troca de experiências
sobre o tema. A Universidade Federal do Amazonas foi a instituição indicada, instituição
essa que, inclusive, aportou, além de orientações mais contextualizadas ao contexto
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brasileiro, formulários traduzidos à Escola de Empatia para facilitar o processo de
organização do evento.
Feito isso, o passo seguinte foi recrutar o time de pessoas necessárias à
implementação da experiência: como diretriz básica do projeto, era necessário garantir
gênero, idade e habilidades diversas. Nosso time foi, então, composto por 5 mulheres e 1
homem variando na faixa etária de 30 a 45 anos.
O processo de encontrar os livros foi um pouco mais desafiador,
pois, em função da pandemia, nossa criação de vínculo, confiança e empatia, precisaria
se dar, exclusivamente, no ambiente on line. Isso posto, acionamos nossas redes pessoais,
além de fazer uma chamada em nosso Instagram, com a realização de uma live, para a
seleção dos livros (conforme ilustração abaixo). Os pilares de preconceitos que elencamos
para os livros foram resultado de um cruzamento entre os nossos preconceitos próprios
(das organizadoras do evento) e aqueles relatados nas respostas que fizemos da chamada
pública de seleção dos livros. Chegou-se aos seguintes pilares de
preconceitos/estereótipos: violência doméstica, poliamor, sistema prisional, HIV/Aids e
prostituição.
Figura 1: convite para ser livro humano, postado nas redes sociais da Escola
de Empatia
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O contato inicial com as pessoas interessadas foi bastante criterioso, entendendo
a sensibilidade do projeto: além de todos eles terem preenchido um formulário inicial, a
equipe organizadora do evento conversou com todos, de forma individual, por telefone
(mais de uma vez), e, uma vez, aceitos os convites, os livros humanos” foram
transferidos para um editor (pessoa que os acompanharia em todo o processo de
construção do projeto).
A preparação dos livros humanos consistiu em quatro reuniões
coletivas com os livros, com duração de cerca de 1h30, cada um dos momentos, além de
escutas individualizadas a partir de questões trazidas no processo de revisitar a história
de cada uma das pessoas. Nesses momentos de treinamento, era explicado o processo
como um todo, aportadas as regras do projeto, tiradas as dúvidas, discutidas as biografias,
os títulos, e a sinopse de cada um dos livros (dados esses que compuseram o catálogo dos
livros, conforme ilustração abaixo). Foi também um momento de experienciar a
experiência que eles levariam a outras pessoas (os livros puderam se ouvir em uma sessão
piloto da Biblioteca Humana, realizada apenas entre eles e os organizadores do evento).
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Figura 2: catálogo dos livros humanos da Escola de Empatia
Para participar do evento, as pessoas faziam uma inscrição prévia e
escolhiam o livro que gostariam de “ler”, dentre os seguintes:
Livro 1 - Histórias que Ignoram o Viver (tema: HIV/AIDS)
Livro 2: Se era amor, por que me machucou? (tema: violência
doméstica)
Livro 3: Mulher, filha, mãe e prostituta (tema: prostituição)
Livro 4: Existe amor dentro da violência? (tema: violência
doméstica)
Livro 5: Diário de um ex-presidiário (tema: sistema prisional)
Livro 6: Frágil Reino: Tornar-se Rainha e se saber Mulher (tema:
poliamor)
No dia do evento, foram organizadas quatro sessões, com 3 livros cada uma das
sessões, ou seja, todos os livros foram emprestados em duas sessões distintas. As
organizadoras recebiam todos os leitores em uma sala única do Zoom, e, após uma
anfitriagem a todos de uma só vez e explicação das regras (conforme ilustração abaixo),
os leitores eram conduzidos a salas com não mais que cinco pessoas para participar da
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experiência de ler o livro humano e sua história. Cada livro foi lido/participou da
experiência duas vezes, sempre acompanhados pelo seu “editor”, que, nesse momento, se
tornaram bibliotecários.
Figura 3: código de ética do Projeto Human Library conduzido pela Escola
de Empatia
Nas salas menores do Zoom, cada livro teve o tempo de 30min. para contar
sua história que, cirscunstancialmente, é marcada por algum estereótipo, mas que
também o transcende, cotidianamente, com toda a impermanência e complexidade do
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ser humano. Nesse tempo de empréstimo aos leitores, a ideia era introduzir o tema do
estereótipo, trazer as vivências de cada livro e permitir ao leitor a oportunidade de
alcançar as informações que ele gostaria de ter, com respeito ao que cada um dos
livros quisesse e se sentisse confortável para levar no momento. Sempre foi respeitada
a possibilidade de alguma resposta não ser dada ou algum detalhe da história do livro
não ser compartilhado.
Ao final de cada sessão, os leitores foram convidados, pelos bibliotecários, a
responder um questionário estruturado, com perguntas abertas e de perguntas de escala.
As perguntas possuíam um caráter avaliativo do evento e convidavam o leitor a expressar
sua opinião sobre a vivência. Também os livros humanos foram convidados a deixar suas
impressões sobre a experiência em um outro formulário específico, também com
perguntas abertas e perguntas de escala.
Avaliação
Serão apresentados, a seguir, os principais dados da avaliação. Começar-se pela
avaliação dos livros humanos. Com exceção de um livro humano, que achou regular,
todos os demais livros avaliaram como tendo sido ótimo, o acompanhamento dos
organizadores durante as suas leituras (se sentiram seguros e confortáveis durantes suas
leituras). Todos os livros concordaram que o treinamento os preparou, adequadamente,
para a publicação como livro humano. Ao avaliarem sua experiência geral como livro na
Biblioteca Humana, 2 livros humanos avaliaram a experiência como muito boa e os 4
demais, avaliaram como excelente. Todos foram unânimes em dizer que gostariam de
continuar sendo livros humanos na Biblioteca Humana e alguns, inclusive, incentivaram
a realização de mais eventos como esse ao longo do ano, pela sua importância de
oportunizar voz às muitas histórias caladas de vida que existem em nossa sociedade. A
questão do limite de tempo com os leitores; e a revisita de alguns momentos da própria
história foram apontados como fatores desafiadores do processo. O acolhimento; respeito;
identificação com o público, e a percepção de que as pessoas que leram não tinham uma
visão estereotipada sobre o trabalho sexual foram fatores positivos do processo.
No que se refere à avaliação dos leitores, 16 leitores participaram da
experiência e preencheram o formulário de avaliação do evento. Dos 16, 6 leitores
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participaram de mais de uma sessão do evento. A faixa etária do público variou de 30 a
63 anos. Apenas 3 homens participaram como leitores, sendo que 13 foram mulheres
leitoras. Foram diversas as ocupações das pessoas que participaram como leitoras, dentre
elas, psicóloga, advogada, metroviária, médica, terapeuta e professor. O livro mais lido
foi um dos livros cujo tema foi a violência doméstica. O tema mais sugerido para uma
próxima edição foi a questão dos estereótipos construídos acerca das relações familiares
(filhos de pais gays, pessoas adotadas, pessoas com doenças terminais etc
2
), seguidos por
questões relacionadas à ideologia (anarquista, feminista, militante de movimento social
etc); etnia (asiático, indígena, negro/preto etc), saúde (depressão, esquizofrenia, bulimia,
anorexia, automutilação etc) e deficiência (cadeirante, autista, cego, surdo-mudo, etc). O
tema menos relevante foi a ocupação (policial, jornalista, político, artista etc).
Quando solicitados a avaliar a experiência, apenas um leitor classificou-a com
valor 4, numa escala de 0 (pior avaliação) a 5 (melhor avaliação); os demais foram
unânimes em classificá-la como 5. A qualidade do evento foi classificada como muito
boa por 20 dos leitores participantes. Foram feitos muitos elogios à proposta, tendo sido
apontada a experiência, como uma experiência de empatia e uma oportunidade de refletir
sobre os estereótipos, conforme se pretendia desde o início.
Vale trazer o depoimento de alguns leitores para ilustrar essa satisfação: “estou
completamente impressionada com o evento. Como é potente criar um espaço de
segurança e cuidado e falar a verdade sobre temas tão desafiadores e tabu. E foi leve e
intenso, completamente surpreendente. Parabéns”.
Quando perguntados sobre qual experiência mais havia marcado o leitor na leitura
daquele dia, um dos leitores mencionou a frase de uma canção: "A diferença é o que
temos em comum" da música brasileira Alívio Imediato, da banda Engenheiros do Havaí.
Outro leitor, sobre essa mesma pergunta, disse:
No momento que ele falou em como se sentiu em relação a
representatividade sobre dar voz a grupos que em determinados momentos não
estão sendo ouvidas. Mais que nem sempre a pessoa que tem a vontade de falar
por essas pessoas conhece as dores ou representa todas essas pessoas tem muita
diversidade. E no quanto seria importante criar espaços para as pessoas falarem
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de suas histórias e serem ouvidas com dignidade e respeito.
Considerações finais
Ao escutar a história do outro, as pessoas ganham a oportunidade de ressignificar suas
crenças e estereótipos. Nesse sentido, a equipe organizadora do evento, da Escola de
Empatia, avalia a experiência como muito boa e acredita que a Biblioteca Humana é uma
ideia poderosa, que se inicia com a seleção de pessoas, e que, com uma escuta apurada
por parte da equipe organizadora e de si mesmas, vão transformando-se em livros e em
novas pessoas. Também essa transformação alcança os leitores e os abraça em um
movimento de conexão e sintonia, de humanidade compartilhada.
Oportunizar a voz, a muitas dores e memórias, também é dar sentido e significado
a elas dentro de outras pessoas. Mas é preciso cuidar, também, para que os estigmas não
circunstanciem uma vida que é para muito além dos estereótipos trazidos pela vivência
da Biblioteca Humana. Experiência essa de cuidado, de acolhimento, de empatia e uma
significativa oportunidade de refletir sobre os estereótipos postos a cada um,
cotidianamente.
A indicação é que novas versões do evento sejam realizadas, preferencialmente,
de forma presencial e em outros contextos. Após essa primeira experiência, a equipe da
Escola de Empatia foi provocada a pensar a Biblioteca Humana no contexto de um
evento de conscientização sobre o HIV/AIDS, mas o evento acabou não acontecendo.
A Escola de Empatia segue firme em seu propósito de disseminar essa experiência
da Biblioteca Humana e acredita que ela seja uma experiência de vínculo importante entre
o livro humano e o leitor e entre o livro humano e sua própria humanidade.
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Nota de rodapé:
1
Cumpre informar que todas essas categorias e seus exemplos são criações da
Human Library Organization, não havendo nenhuma adição ou ajuste de informação por
parte da equipe organizadora do evento.