Revista Subjetividad y Procesos Cognitivos
ISSN electrónico: 1852-7310
Vol. 27, Nro. 2 “Análisis del Discurso y del Lenguaje”
(Julio-Diciembre, 2023)
Fecha de Recepción: 03 de Marzo del 2023
Fecha de Aceptación: 28 de Abril del 2023
Indagações sobre experiência de quase morte, memória episódica e o psicóide na visão da psicologia analítica.
Inquiries about near-death experiences, episodic memory and the psychoid from the view of analytical psychology.
Eduardo Luís De Queiroz1
ARK – CAICYT: http://id.caicyt.gov.ar/ark:/s18527310/9ey52walw
Busca-se discutir a relação da Experiência de Quase Morte (EQM) a partir dos conceitos junguianos, particularmente a Individuação e a Espiritualidade. Pretende-se ainda, explorar possíveis relações entre a memória da EQM e Neuropsicologia, analisando o arquétipo psicóide e possíveis relações entre ele e a memória episódica, procurando-se possibilidades viáveis de pesquisas exploratórias que possam trazer maiores esclarecimentos na relação entre a experiência de quase morte, o conceito do psicóide da Psicologia analítica de C. G. Jung e a memória episódica tratada em neuropsicologia.
Palavras-Chave
Experiência de quase morte, psicologia analítica, individuação, espiritualidade, neuropsicológica, memória episódica
Keywords
Near-death experience, analytical psychology, individuation, spirituality, neuropsychology, episodic memory.
Justificativa
O presente trabalho busca contribuir para o campo científico e para a área dos profissionais de saúde. Dentro do campo científico, pode contribuir para a busca de novas explorações que, até o presente momento, conta mais com explicações religiosas e espirituais, do que com pressupostos de áreas de conhecimento médicas ou psicológicas. A EQM ainda detém, nos eventos descritos pelos sobreviventes, fenômenos ainda sem explicação, fomentando misticismos e todo novo fenômeno merece atenção de pesquisa com bases epistemológicas devidamente referenciadas.
Neste quadro, se pode destacar que a morte é um tema que intriga a humanidade desde o começo dos tempos, assim quando se trata da experiência de quase morte, ou EQM, se suscita todas as dúvidas inerentes aos seus aspectos transcendentais e espirituais. Para a o profissional de saúde mental, é de suma importância aplicar conhecimento afim de explorar a EQM para melhor conhecimento do fenômeno, incluindo:
Crenças espirituais ou religiosas.
Experiências transcendentais.
Interação corpo e psique
Conhecimento neuropsicológico em áreas ainda não exploradas.
Objetivos
Objetivo geral
Caracterizar os aspectos centrais do processo de individuação a partir da presença de espiritualidade em pessoas que vivenciaram uma Experiência de Quase Morte – EQM – e compreender como esses eventos interferem no arquétipo psicóide e na memória episódica.
Objetivos específicos
Compreender melhor o arquétipo psicóide em pessoas que passaram por uma EQM.
Investigar se a EQM exerce influência sobre a memória episódica.
O presente artigo refere-se à análise da Experiência de Quase Morte (EQM) vividas por pessoas, a partir dos conceitos junguianos, particularmente, Individuação e Espiritualidade. Pretendeu-se também explorar possíveis relações entre a memória da EQM e Neuropsicologia.
Com o intuito de contextualização e esclarecimento, destaca-se que experiências de quase morte (EQM) são profundas vivências psicológicas de pessoas e que enfrentaram perigo real de morte com parada cardíaca, frequentemente associadas a um estado alterado de consciência e que ocasionam profundas mudanças na vida das pessoas.
Na psicologia analítica, segundo Jung (1925) o termo psicóide designa processos subcorticais e se relaciona biologicamente com funções de adaptação. Reúne todas as funções mnésicas (relativas à memória) do organismo e do sistema nervoso orientadas para um fim e tem como função a preservação da vida. Ademais, Jung conceitua que o ego, no centro da consciência, não reconhece a verdadeira natureza do arquétipo que viria das profundezas do inconsciente coletivo, o que impede a transcendência (como Jung trata conscientizações importantes para o indivíduo) o que o motivou à definição “psicóide”. Assim, se abordará mais adiante como isso pode se relacionar com a EQM e com a memória episódica.
Pretende-se, neste artigo, uma exploração de possíveis contribuições da neuropsicologia no estudo da experiência de quase morte no que diz respeito as lembranças comuns da experiência, em que são comuns determinados relatos como, por exemplo, o encontro com parentes falecidos e o túnel de luz. Essas lembranças seriam fruto de conteúdo armazenados de referência biográfica, como descreve a memória episódica?
Método
Este estudo investiga através da análise conteúdo de Bardin as categorias da individuação e espiritualidade em pessoas que vivenciaram uma experiência de quase morte, analisando-as em suas narrações através de subcategorias definidas desde o Marco conceitual, presentes nos objetivos planteados de investigação.
Subcategoria de análise A.1: Autoconhecimento, que incluem os seguintes itens: Persona, Sombra, Animus e Anima e Self; arquétipos de morte e renascimento; transformações nas funções psicológicas junguianas.
Subcategoria de análise A.2: Desenvolvimento da Personalidade; hábitos; estilos de vida e preparação para a morte.
São avaliadas em todas as perguntas do questionário.
Categoria espiritualidade
Indagada através das subcategorias:
B.1. Crença na vida após a morte.
Avaliada nas perguntas de 1 a 14.
B.2. Dedicação a uma religião.
Avaliada nas perguntas de 15 a 32.
Se consideram as relações existentes entre a espiritualidade e o processo de individuação em nas pessoas avaliadas neste estudo.
Tipo de trabalho
O presente trabalho é do tipo exploratório, uma vez que o problema proposto não apresentou aspectos que permitissem a visualização dos procedimentos que seriam adotados e porque não foram encontrados estudos da área da Psicologia que contemplem tanto a EQM como as variáveis aqui destacadas, além de indagar de maneira inovadora a espiritualidade e a individuação, oferecendo conceitos que podem ser considerados promissores e abrindo espaço e referencial para novos estudos acerca do tema. Assim, assumiu forma de estudos de caso em consonância com o referencial teórico e com entrevistas realizadas com pessoas que tiveram a experiência de quase morte.
Como sustenta Gil (2008) a pesquisa exploratória é uma metodologia que contempla: levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a compreensão.
Em segundo lugar a pesquisa é descritiva pelo aspecto de observar, classificar e caracterizar fenômenos visando o registro e a análise do discurso de pessoas que passaram pela EQM frente às categorias de conteúdo definidas e suas subcategorias.
É também um trabalho qualitativo que visa investigar fenômenos dos quais não se tem controle e de muita subjetividade, o que implica na necessidade de análise no contexto da vida real para o levantamento de dados, além de se tratar de assunto pouco explorado cientificamente.
O presente trabalho é do tipo exploratório, porque o problema proposto não apresentou aspectos que permitissem a visualização dos procedimentos que seriam adotados e pela razão de que não foram encontrados estudos da área da Psicologia que contemplem tanto a EQM como as variáveis aqui destacadas, além de indagar de maneira inovadora a espiritualidade e a individuação, oferecendo conceitos que podem ser considerados promissores e abrindo espaço e referencial para novos estudos acerca do tema. Assim, assumiu forma de estudos de caso em consonância com o referencial teórico e com entrevistas realizadas com pessoas que tiveram a experiência de quase morte.
A pesquisa é descritiva pelo aspecto de observar, classificar e caracterizar fenômenos visando o registro e a análise do discurso de pessoas que passaram pela EQM frente às categorias de conteúdo definidas e suas subcategorias.
É também um trabalho qualitativo que visa investigar fenômenos dos quais não se tem controle e de muita subjetividade, o que implica na necessidade de análise no contexto da vida real para o levantamento de dados, ademais se trata de assunto pouco investigado cientificamente.
Unidades de análise
Narrativas
de indivíduos que passaram por uma experiência de quase morte, em
que se definiram as categorias de conteúdo e subcategorias a serem
consideradas.
Variáveis descritivas
Amostra
Se definiu, primeiramente, baseando-se no problema e projeto de investigação, a delimitação e tipo de amostra a ser analisada.
Se trata de amostra de tipo intencional, não probabilística, não aleatória, pela qual não se generalize as conclusões a que chegue à investigação, senão as que se refiram ao grupo avaliado. A escolha dos respondentes não segue um modelo aleatório e nem existe controle estatístico de representação do universo pesquisado na amostra.
Participaram deste estudo 20 adultos com idades a partir de 20 anos até a senectude, de ambos os sexos que vivenciaram uma experiência de quase morte ocasionada por uma doença com ou sem comorbidade com outras doenças, ou por traumas físicos.
Os indivíduos foram convidados a participarem da pesquisa por indicações de professores, estudantes de universidades e profissionais da área de saúde contatados que indicaram pacientes, amigos ou conhecidos que tinham passado pela experiência de quase morte. Houve um caso em que uma colega psicóloga que foi solicitada a indicar alguém indicou a mãe, médica, que tinha tido a EQM e dois outros casos em que ao se realizar a divulgação em um curso de Psicologia, dois alunos afirmaram terem tido a experiência e se prontificaram a participar.
Desse modo se conseguiu contatar os participantes voluntários da investigação, apesar da dificuldade específica de transmitir uma experiencia existencial tão particular e significativa.
A amostra foi determinada a partir do problema e do projeto de investigação, estabelecendo-se os limites da população de acordo com os objetivos da pesquisa.
A delimitação da população da amostra da pesquisa foi significativamente restrita, uma vez que a experiência de quase morte é um fenômeno raro. Segundo Greyson (2007) há uma incidência de 10% a 20% de casos de EQM em ocorrências médicas que envolvem parada cardíaca, ratificando seu aspecto raro, sendo esta a principal dificuldade em selecionar a amostra. Assim, pode-se afirmar com segurança que as características da população foram suficientemente descritas sem incidir em generalizações, sobretudo das conclusões, a não ser aquilo que é referente ao grupo avaliado.
Nenhum indivíduo foi desconsiderado para a amostra, uma vez que detivessem as características necessárias para participar do estudo, assim como nenhum fora das mesmas características participou. Ninguém verdadeiramente inelegível participou da pesquisa. Por exemplo, crianças que passaram por experiência de quase morte não participaram do estudo, porque fantasias de cunho infantil poderiam interferir nos dados a serem levantados, gerando distorções.
Ressalta-se ainda que foi colocado como condição de inclusão na amostra o fato de que o indivíduo se lembrasse claramente de sua experiência, tivesse vontade de conversar sobre ela, não manifestasse transtornos psiquiátricos, estando com as capacidades de pensamento e cognitivas preservadas e, por fim, assinasse o termo de consentimento.
Assim, determinou-se a delimitação de população da amostra, consistindo-se da participação no estudo de 20 adultos com idades a partir de 20 anos até a senectude, de ambos sexos que passaram por uma experiência de quase morte ocasionada por uma doença com ou sem comorbidade com outras doenças, ou por traumas físicos.
Por se tratar de amostra não probabilística pode-se compreender que a escolha dos elementos não está relacionada com a probabilidade, evidentemente, mas sim as características e critérios da pesquisa como descrito acima e de acordo com as tomadas de decisão do pesquisador. Estabeleceu-se assim uma representação da população determinada em que foi possível encontrar regularidades e semelhanças nas respostas capazes de gerar dados para conclusões específicas acerca da relação entre a EQM e as variáveis de crença na vida após a morte e dedicação a uma religião.
A amostra conteve sujeitos voluntários, valiosos porque sua inclusão foi baseada no fato de todos terem vivenciado a mesma situação: a experiência de quase morte. Isso estabeleceu uma amostra de indivíduos especialistas com real capacidade de descrever a experiência vivida.
Da mesma forma, são indivíduos-tipo, pois, a partir da análise empírica do fenômeno da vivência da EQM, pode-se coletar informações com riqueza, profundidade e qualidade, uma vez que é disso que se trata o objetivo e não a quantidade ou padronização dos dados coletados.
Os indivíduos participantes da pesquisa foram convidados a participarem por indicações de professores e estudantes de universidades, além profissionais da área de saúde contatados que indicaram pacientes, amigos ou conhecidos que passaram pela EQM.
Em razão do tema, percebe-se que os indivíduos participantes, por si só, são casos típicos, dadas as características comuns da experiência. Assim, além da proximidade da morte, cada indivíduo deveria ter passado por pelo menos uma das típicas vivências da experiência de quase morte, o que dá o aspecto numinoso e transcendental da experiência.
A vivência numinosa ou transcendental é extremamente marcante, particular e significativa, dessa forma, ao serem contatados para participarem da pesquisa, logo se identificavam a similaridade das características da pesquisa e com a própria vivência e assim, sabia-se que estavam aptos para participar da investigação através da entrevista. A participação foi voluntária e pelo convite do pesquisador.
Não se buscou assim determinar uma representatividade de elementos de uma população, mas sim investigar o tema frente a uma amostra segura e escolhida de forma criteriosa e controlada, respeitando as características tão específicas que foram determinadas e especificadas previamente na formulação do problema da pesquisa. Esse objetivo foi cumprido, uma vez que a amostra ofereceu à investigação grande quantidade de dados para coleta e análise.
Critério de seleção de casos
A amostra foi delimitada a partir da idade, nos sujeitos pertencentes à fase adulta, mantendo a especificidade desta etapa vital, diferenciada da infância, adolescência e senectude.
A princípio, seriam aceitos participantes em que o período da experiência ocorreu entre o ano de 2007 até o momento presente, contudo isso não foi suficiente para a composição da amostra. É baixo o percentual de pessoas que passaram pela experiência de quase morte e, quando encontradas, são poucas dispostas a compartilhar uma experiência tão singular e profunda. Por essa razão, se destinou um tempo a estabelecer um vínculo de conhecimento confiável com o entrevistador, estabelecendo-se uma posição sem preconceitos ou prejuízos para os indivíduos.
Desse
modo se flexibilizou a data da EQM colocando como condição de
inclusão na amostra o fato de que o indivíduo se lembrasse
claramente de sua experiência, tivesse vontade de conversar sobre
ela, não manifestasse transtornos psiquiátricos de pensamento e
assinasse o termo de consentimento.
É preciso esclarecer que pessoas que passaram por uma experiência de quase morte expressam certo pudor e resistência em dar seus relatos, isso ocorre em razão de tratar de assuntos de caráter numinoso e transcendental com outras pessoas que talvez tenham obstáculos epistemológicos ou preconceitos, ao ouvi-las. Assim mesmo, pode-se constatar em entrevistas piloto que pessoas que passam por EQM associam sua experiência muito mais a aspectos existenciais, espirituais ou religiosos do que aspectos de ordem psicológica.
As perguntas da entrevista foram categorizadas de acordo com as variáveis da pesquisa: individuação e espiritualidade.
Enquanto não foi perguntado de forma direta se tinham antecedentes psiquiátricos pelas razões antes expostas, pode-se constatar em entrevistas-piloto preliminares levadas a cabo, que em seus discursos não se apresentavam indicadores de transtornos no pensamento compatíveis com quadros psiquiátricos.
As perguntas da entrevista foram estruturadas de acordo com as categorias de conteúdo e subcategorias definidas para sua análise.
Técnicas e instrumentos
Técnica de análise de conteúdo com os instrumentos: entrevistas semiestruturadas e análise de conteúdo de Bardin, que consiste em examinar as variáveis psicológicas nos textos obtidos.
As entrevistas semiestruturadas foram registradas em áudio e integralmente transcritas, incluindo hesitações, risos, silêncios, dentre outras. Os discursos dos entrevistados foram espontâneos manifestando os sentimentos e pensamentos de forma livre a respeito de sua experiência de quase morte, de forma a representar seus valores, pensamentos e emoções e exteriorizando seu conteúdo inconsciente a respeito do evento.
A análise de conteúdo de Bardin foi aplicada através da fala dos indivíduos que, por sua vez, continham partes observáveis que permitiram compreender os indivíduos em relação a sua EQM, individuação e espiritualidade. Evitou-se assim, eventuais inferências oriundas da linguagem pura e simples, como entende Bardin (2011, p. 49): “(..) a análise de conteúdo trabalha a fala, quer dizer, a prática da língua realizada por emissores identificáveis”. Desse modo buscou-se a compreensão do conteúdo ´que as palavras carregavam, seu significado portanto, de acordo com as variáveis da pesquisa, assim como compreende Bardin (2011, p. 50): “A análise do conteúdo (...) visa o conhecimento de variáveis de ordem psicológica, sociológica, histórica, existencial, por meio de um mecanismo de dedução com base em indicadores reconstruídos a partir de uma amostra de mensagens particulares”.
As perguntas da entrevista foram estabelecidas de acordo com as categorias da pesquisa: individuação e espiritualidade e suas subcategorias de análises.
Para se prevenir possíveis induções de conteúdo nas respostas, foram definidas além de um relato inicial e espontâneo sobre a experiência de quase morte dos indivíduos, questões abertas, ou seja, cada um poderia dar qualquer reposta às perguntas com total liberdade para descrever suas experiências e descrições de forma pessoal. Dessa maneira, foi possível compreendê-las e interpretá-las baseando-se no marco conceptual definido no trabalho e reduzir possíveis preconceitos que poderiam distorcer uma avaliação fundamentada dos textos obtidos nas entrevistas, além de permitir inferências pela explicitação dos indicadores.
As respostas foram classificadas de acordo com o tipo de relação entre os indivíduos e as categorias da pesquisa (individuação e espiritualidade) o que permitiu a manifestação de conteúdos profundos e inconscientes. A partir dessas duas categorias de análise foi elaborado um quadro categorial, para sintetizar os resultados e gerar um sentido suplementar que permitisse a análise.
Procedimentos
A entrevista contém 32 (trinta e duas) questões.
Se estruturou da seguinte maneira em seus objetivos de investigação:
Subcategoria de análise A.1: Autoconhecimento, que incluem os seguintes itens: Persona, Sombra, Animus e Anima e Self; arquétipos de morte e renascimento; transformações nas funções psicológicas junguianas.
Subcategoria de análise A.2: Desenvolvimento da Personalidade; hábitos; estilos de vida e preparação para a morte.
São avaliadas em todas as perguntas do questionário.
Categoria espiritualidade
Indagada através das subcategorias:
B.1. Crença na vida após a morte.
Avaliada nas perguntas de 1 a 14.
B.2. Dedicação a uma religião.
Avaliada nas perguntas de 15 a 32.
A amostra foi determinada a partir do problema e do projeto de investigação, estabelecendo-se os limites da população de acordo com os objetivos da pesquisa.
A delimitação da população da amostra da pesquisa foi significativamente restrita, uma vez que a experiência de quase morte é um fenômeno raro. Segundo Greyson (2007) há uma incidência de 10% a 20% de casos de EQM em ocorrências médicas que envolvem parada cardíaca, ratificando seu aspecto raro, sendo esta a principal dificuldade em selecionar a amostra. Assim, pode-se afirmar com segurança que as características da população foram suficientemente descritas sem incidir em generalizações, sobretudo das conclusões, a não ser aquilo que é referente ao grupo avaliado.
Nenhum indivíduo foi desconsiderado para a amostra, uma vez que detivessem as características necessárias para participar do estudo, assim como nenhum fora das mesmas características participou. Ninguém verdadeiramente inelegível participou da pesquisa. Por exemplo, crianças que passaram por experiência de quase morte não participaram do estudo, porque fantasias de cunho infantil poderiam interferir nos dados a serem levantados, gerando distorções no estudo.
Ressalta-se ainda que foi colocado como condição de inclusão na amostra o fato de que o indivíduo se lembrasse claramente de sua experiência, tivesse vontade de conversar sobre ela, não manifestasse transtornos psiquiátricos, estando com as capacidades de pensamento e cognitivas preservadas e, por fim, assinasse o termo de consentimento.
Assim, determinou-se a delimitação de população da amostra, consistindo-se da participação no estudo de 20 adultos com idades a partir de 20 anos até a senectude, de ambos sexos que passaram por uma experiência de quase morte ocasionada por uma doença com ou sem comorbidade com outras doenças, ou por traumas físicos.
Por se tratar de amostra não probabilística pode-se compreender que a escolha dos elementos não está relacionada com a probabilidade, evidentemente, mas sim as características e critérios da pesquisa como descrito acima e de acordo com as tomadas de decisão do pesquisador. Estabeleceu-se assim uma representação da população determinada em que foi possível encontrar regularidades e semelhanças nas respostas capazes de gerar dados para conclusões específicas acerca da relação entre a EQM e as variáveis de crença na vida após a morte e dedicação a uma religião.
A amostra conteve sujeitos voluntários, valiosos porque sua inclusão foi baseada no fato de todos terem vivenciado a mesma situação: a experiência de quase morte. Isso estabeleceu uma amostra de indivíduos especialistas com real capacidade de descrever a experiência vivida.
Da mesma forma, são indivíduos-tipo, pois, a partir da análise empírica do fenômeno da vivência da EQM, pode-se coletar informações com riqueza, profundidade e qualidade, uma vez que é disso que se trata o objetivo e não a quantidade ou padronização dos dados coletados.
Os indivíduos participantes da pesquisa foram convidados a participarem por indicações de professores e estudantes de universidades, além profissionais da área de saúde contatados que indicaram pacientes, amigos ou conhecidos que passaram pela EQM.
Em razão do tema, percebe-se que os indivíduos participantes, por si só, são casos típicos, dadas as características comuns da experiência. Assim, além da proximidade da morte, cada indivíduo deveria ter passado por pelo menos uma das típicas vivências da experiência de quase morte, o que dá o aspecto numinoso e transcendental da experiência.
A vivência numinosa ou transcendental é extremamente marcante, particular e significativa, dessa forma, ao serem contatados para participarem da pesquisa, logo se identificavam a similaridade das características da pesquisa e com a própria vivência e assim, sabia-se que estavam aptos para participar da investigação através da entrevista. A participação foi voluntária e pelo convite do pesquisador.
Não se buscou assim determinar uma representatividade de elementos de uma população, mas sim investigar o tema frente a uma amostra segura e escolhida de forma criteriosa e controlada, respeitando as características tão específicas que foram determinadas e especificadas previamente na formulação do problema da pesquisa. Esse objetivo foi cumprido, uma vez que a amostra ofereceu à investigação grande quantidade de dados para coleta e análise.
O termo psicóide refere-se a um arquétipo. Carl G. Jung (1933) define os arquétipos como padrões de percepção psíquica comuns a toda a humanidade, oriundos do inconsciente coletivo, os quais se modificam através da conscientização e percepção de cada pessoa, com matizes que variam de acordo com a consciência individual.
Segundo Nasser (2010) por se tratar de arquétipo, o psicóide é um conceito inconsciente e expressa a conexão desconhecida entre o soma e a psique. Trata-se de profundos níveis do inconsciente e detém propriedades comuns com o orgânico, em que os aspectos psicológicos e fisiológicos estão em uma correlação, ou seja, não é nem totalmente psicológico, nem totalmente fisiológico.
Segundo Jung (1933) a individuação é um processo da personalidade, que representa autoconhecimento gerando um indivíduo psicológico em uma unidade, de caráter indivisível, o que estabelece vínculo e condiciona as experiências que, assim, serão descritas fazendo-se uso de hipóteses de processos inconscientes. Esta totalidade do ser, para Jung, não pode ser representada apenas pela consciência, mas sim pela harmonização do inconsciente com o consciente em uma única unidade. É digno de nota ressaltar que o autoconhecimento ocorre no processo de individuação em função do consciente e o inconsciente tornarem-se uma única unidade, o que implica na tomada de consciência de conteúdos de personalidade que anteriormente eram inconscientes. O processo se inicia através de um conflito ou evento que exige do indivíduo novas posturas e abordagens para chegar a uma solução, obrigando à derrubada de antigos traços de personalidade e à confrontação do inconsciente, o que representa o condicionamento das experiências. Ocorre em etapas representadas pelos arquétipos da persona, sombra, animus e anima e self.
Segundo Von Franz (1964) inicia-se na queda da persona (máscara social) que faz oposição à sombra que, por sua vez, nos leva à confrontação dos aspectos inconscientes que ela contém. Esta afirmação é uma representação de que a pessoa entrou em um sofrimento mobilizador, percebendo que não era como imaginava e agora tem de iniciar um processo de autoconhecimento. É factível pensar que é de extrema dificuldade manter a persona após uma EQM, já que a sobrevivência decreta naturalmente a reflexão sobre o evento e, consequentemente, aos traços que a sombra apresentará. A “realização da sombra” é a manifestação do inconsciente, o que exige uma adaptação das atitudes conscientes aos fatores inconscientes, a pessoa entra em contato com suas características desconhecidas ou pouco conhecidas pelo ego. A sombra, ainda pode-se apresentar em nossos atos impulsivos ou instintuais, de rompantes, mas não é o total do inconsciente contido na personalidade.
Jung (1964) também afirma que o animus ou a anima fazem o papel da mediação entre o inconsciente e a consciência. É frequente a aparição dos símbolos masculinos e femininos nos sonhos e, não raro, representam o aprendizado do domínio de nossas emoções e afeto. Uma das importantes funções da anima no processo de individuação é o de identificar aspectos inconscientes quando o espírito lógico do homem não consegue fazê-lo. O animus na mulher também é um mediador quando desenvolvido, dando à mulher características como capacidade de planejamento e de pensamento, dando à mulher firmeza espiritual e deixando-a mais receptiva a ideias novas. O processo de conscientização da anima ou animus, o conhecimento do sexo oposto na sua forma consciente, provoca um imenso enriquecimento e ampliação da personalidade, o que colaborará para que se atinja o si mesmo.
Por fim, ao atingirmos o Self (Si mesmo) toda a consciência já foi confrontada com todo o material inconsciente, denotando equilíbrio e plena interligação entre ambos. Faz-se importante lembrar que o próprio Jung denominou o self como “Deus interior”. O arquétipo Deus ocupa o centro do self, representação de totalidade psíquica, onde consciente e inconsciente se encontram unidos.
Jung determinava a individuação como um processo que proporciona à pessoa destacar-se do todo, ou seja, sair do lugar comum na coletividade humana através das transformações de sua personalidade no processo, entretanto é importante ressaltar que a psique será alterada a partir do contato com os arquétipos do inconsciente coletivo que, por sua vez, os reúne através de símbolos oriundos da cultura da humanidade.
O processo de individuação consiste em aproximar o ego, que de acordo com a Psicologia Analítica faz a mediação entre o mundo externo (realidade) e o mundo interno (psíquico) regido pelo self, de modo que o autoconhecimento se dá em função da conscientização de mundo interno e inconsciente. O inconsciente coletivo é constituído por arquétipos que podem acessar o inconsciente pessoal e o psicóide, como arquétipo, tem a mesma conceituação. Entretanto, o mesmo tem advento de ser uma processo também fisiológico. Assim, podemos compreender o psicóide como um arquétipo (portanto psíquico) mas localizado em processos corporais.
Como conceitua Boechat (2014) Jung busca compreender a relação existente entre os arquétipos e os instintos. Assim, o arquétipo faria parte dos mundos psíquico e material, como psicóide: “(...) o arquétipo ocupa em seus aspectos mais profundos uma posição quase-psíquica e, ao mesmo tempo, quase-material, uma posição entre psique e matéria. Dessa forma, podemos compreender que todo arquétipo, a princípio, é psicóide, demonstrando assim uma conexão entre corpo e psique ainda não reconhecida.
As pesquisas mais recentes acerca da experiência de quase morte (EQM) apontam uma série de eventos psicológicos relacionados a mudanças de comportamento, crenças espirituais e valores comuns, muito embora a revisão de literatura aponte algumas divergências entre estudos. Podemos destacar a EQM como fenômeno fruto da cultura, que demanda explicações históricas e sociais, outras como experiência de uma consciência transcendente à realidade como a conhecemos. Contudo, pode-se verificar que não há consenso científico ou explicação que reduza a complexidade de seus elementos. Em um estudo psicológico, não se pode incidir no mesmo erro e deve-se considerar que corpo e mente estão em interação na experiência e isto é de suma relevância para uma pesquisa exploratória como se pretendeu empreender.
A experiência de quase morte (EQM), aparece em manifestações diversas. Dr. Raymond Moody Jr. em 1975, no seu livro “Vida depois da vida”, obra que cunhou o termo EQM demonstra que os que vivenciaram a experiência de quase morte sempre, sem nenhuma exceção, relatam vivências de cunho espiritual que envolvem o encontro de seres de luz, parentes já falecidos, o conhecido “túnel de luz” que leva ao Céu ou outra dimensão qualquer, entre outros relatos. Importante ressaltar que os pacientes entrevistados por Moody modificaram muito suas crenças religiosas e tantos outros que não tinham crenças ou conhecimento religiosos passaram a ter.
Moody (1975) compreende:
“(...) pessoas que tinham tido contato com doutrinas religiosas, mas que as tinham rejeitado, adquiriram sentimentos religiosos de uma profundidade nova depois da experiência. Outros dizem que, embora tenham lido escritos religiosos, tais como a Bíblia, nunca realmente entenderam certas coisas que tinham lido até a experiência de quase morte”.
O psicóide pode ser apontado como parte da psique corporal de um indivíduo e pode ter relação com a EQM uma vez que está relacionado com o soma, experiências anteriores, e com a memória. Pelo mesmo motivo, pode-se relacioná-lo com a neuropsicologia.
Frey-Rohn (1989) destaca que Moody estudou doentes graves e que não davam mais sinais de vida, apresentando sintomas específicos desse estado: extinção da consciência, não-funcionamento do coração, suspensão da respiração e a pressão sanguínea baixa e queda de temperatura. Falta de fluxo sanguíneo e de oxigênio fecham o quadro, ressaltando-se que Moody não realizou eletroencefalogramas, o que teria melhor esclarecido um quadro de “morte clínica”.
Frey-Rohn (1989) ainda ressalta que Moody falou da existência da morte em seu sentido mais restrito, em que aquele que volta à vida teve instantes de consciência, apesar de estar continuamente inconsciente, o que se refere aos relatos de percepções do meio que circundava o paciente, bem como as visões de luz e sensações relativas a um Eu que continuava a existir.
Frey-Rohn (1989 p.34) então, conclui:
“Por isso, daqui em diante, sempre entenderei como experiência de morte aquela na qual – não importa quão profundo tenha sido o estado de inconsciência – se possam comprovar mais tarde manifestações do consciente. Baseados nas experiências da morte, podemos formar um quadro dos mais surpreendentes sobre os processos psíquicos internos que acontecem durante o estado de coma”.
Em relação à psique e o psicóide, Jung (1925) afirma:
São a conação e o emprego de experiências anteriores, [...] para alcançar o alvo, o que inclui a memória (engrafia e ecforia) e a associação, ou seja, algo de análogo ao pensamento. (p. 123)
É fundamental destacar que engrafia é a codificação de informações na memória e a ecforia processo de ativação ou recuperação de uma memória, o que caracteriza um fenômeno essencial para a memória, pois, enfatiza como recuperar memórias que são altamente dependentes de indícios que se tem para tanto. De forma mais simples, pode-se dizer que, quanto ao armazenar os documentos que implicam em uso de senhas ou critérios de catalogação e usando as palavras-chave pode-se, então, encontrar o documento, da mesma forma, na memória, armazenamos o que aconteceu usando alguns itens mais relevantes que outros (podem ser pessoas, ações, percepções, cores, etc.) através desses elementos podemos reconstruir a memória da experiência. Isto posto, fica evidente a possibilidade de que as memórias originárias de uma experiência de quase morte possam ser um fenômeno de ecforia.
Jung (1925) não considerava o psicóide como uma função organológica, ainda que o mesmo tenha funções subcorticais e considerasse improvável uma função psicológica isenta de seu próprio órgão, mesmo considerando experiências psíquicas sem o substrato orgânico, e dá ao termo uma função “quase psíquica”, como os reflexos.
Jung (1925) afirma
[...] esse termo tem por função distinguir uma determinada categoria de fatos dos meros fenômenos vitais, por uma parte, e dos processos psíquicos em sentido próprio, por outra. (...) nos obriga também a definir com mais precisão a natureza e a extensão do psíquico, e de modo todo particular do psíquico inconsciente. (p. 124)
É notório na área de conhecimento da Psicanálise que a consciência é fortemente influenciada pelo inconsciente, contudo aspectos inconscientes também podem interferir na memória.
Jung (1933) afirma
[...]a memória funciona em geral automaticamente. Costuma utilizar as fontes de associação, mas muitas vezes serve-se desta de um modo tão extraordinário, que é preciso refazer um exame de todo o processo de reprodução da memória a fim de descobrir como certas lembranças conseguiram chegar à consciência. Muitas vezes essas fontes não podem ser encontradas. Em tais casos é impossível descartar a hipótese de atividade espontânea do inconsciente. (p. 281)
Na seara de conhecimento da neuropsicologia, segundo Oliveira (1993), a amnésia anterógrada consiste na dificuldade em se consolidar uma nova informação semântica e episódica a partir de uma operação ou lesão e, desse modo, pode estar relacionada com aspectos de repressão por traumas oriundos de dor física ou emocional que antecipam a EQM, já que muitos pacientes tiveram suas experiências em eventos traumáticos como acidentes automobilísticos, afogamentos ou problemas de saúde muito dolorosos.
Como conceitua Schater (2009) a memória episódica abrange eventos autobiográficos que envolvem não apenas a relação tempo e lugar, mas também como se associam com as emoções e pessoas presentes nos eventos, bem como os eventos ocorreram. Ou seja, representa as experiências pessoais de um indivíduo que ocorreram em um determinado tempo e lugar.
Segundo Yacoub (2020) a memória episódica se dá por eventos, ocorrências e episódios e por isso pode-se relacionar a EQM, pois ela é um evento, uma ocorrência que pode ser tratada como fenômeno a ser explorado.
Ainda que o espaço-tempo, também característico da memória episódica, possa não ser claro uma vez que é fato que, em algum momento, o indivíduo estará inconsciente, pois para vivenciar uma EQM é preciso estar em parada cardíaca. Sua organização se dá em termos de momentos e lugares em que os acontecimentos ocorreram e nesse contexto temos os relatos de pacientes que dizem ter visto áreas do hospital em que foram atendidos, como a própria cirurgia e as conversas dos médicos com a família em outro cômodo do hospital, por exemplo. Poderiam esses indivíduos ter inconscientemente percebido essas atividades que, diga-se, foram confirmadas pelos médicos causando enorme surpresa e transformando-as em conteúdo de memória episódica?
Estudos que se pautam em aspectos neurológicos não levam essa possível hipótese em consideração, mas sim de uma mente ou consciência não local e independente do cérebro. É o caso de autores destacados acerca do tema como Bruce Greyson.
Bruce Greyson, é cientista e professor de psiquiatria da Universidade da Virgínia. Ele é coautor de Irreducible Mind e coeditor de The Handbook of Near-Death Experiences e é considerado o mais destacado pesquisador da experiência de quase morte norte-americano.
Segundo Greyson (2007) características individuais da experiência indicam mais persuasivamente para transcendência, do que para um simples mecanismo cerebral limitado. Além disso, não há, até agora, nenhuma explicação reducionista que possa dar conta satisfatoriamente de algumas dessas características: o encontro com parentes falecidos, a aparente capacidade visual em cegos durante a EQM, a aparente aquisição de dons psíquicos e espirituais após a EQM, relato de cura ocorrida durante uma EQM e experiências verídicas durante a ressuscitação pós-parada cardíaca. Embora uma mente não local pudesse explicar muitas das características das experiências de quase morte, a não localidade ainda não é aceita pela corrente predominante da neurociência. Somente aquelas teorias baseadas num entendimento mais amplo da mente poderiam explicar totalmente a experiência subjetiva dos que vivenciaram uma EQM.
Fenwick, P. (2013), questiona em sua pesquisa: As experiências de quase morte (EQM) podem contribuir para o debate sobre a consciência? O objetivo deste estudo foi determinar se a EQM é um estado alterado de consciência que, no ocidente, inclui uma experiência emocional e de conteúdo estereotipado. Algumas características da experiência são transculturais e sugerem ou um mecanismo cerebral similar, ou acesso a uma realidade transcendente.
Assim também se caracterizam os estudos de Von Haesler, N.T. & Beauregard, M. (2013). Experiências de quase morte em parada cardíaca: implicações para o conceito de mente não local. O objetivo deste artigo foi revisar os estudos prospectivos de EQM induzidas por paradas cardíacas e examinar as implicações desses estudos para o conceito de mente não local. Os resultados mostraram vários estudos prospectivos, que demonstram incidência média de 10% a 20% de EQMs induzidas por paradas cardíacas, independentemente de aspectos sociodemográficos, sexo, religião ou quaisquer parâmetros médicos, fisiológicos ou farmacológicos consistentes e ainda que, pessoas que passaram por uma EQM são mais propensas a mudanças de vida positivas que podem durar muitos anos após a experiência do que aquelas que não a tiveram. As conclusões apontam que as teorias fisicalistas da mente não são capazes de explicar como pessoas que tiveram EQM podem vivenciar – enquanto seus corações estão parados e sua atividade cerebral aparentemente ausente – pensamentos vívidos e complexos e adquirir informações verídicas a respeito de objetos ou eventos distantes de seus corpos. As EQM em paradas cardíacas sugerem que a mente é não local, isto é, não é gerada pelo cérebro e não está confinada a ele ou ao corpo.
Como sustentam Schwaninger, J. & Eisenberg, P. R. & Schechtman, K. B. & Weiss, A. N. (2002) pode-se identificar um ponto de convergência da memória episódica com características da EQM é o fato de que a mesma contém os eventos que são codificados apenas pela atenção e, ainda que inconscientes, os pacientes que vivenciaram a experiência têm vívidas as lembranças e relatam esse sentimento de inefabilidade, em que essa intensa calma pode contribuir para o registro das lembranças.
As características da memória episódica enquanto um sistema que registra os acontecimentos passados e os conteúdos armazenados em termos de referências autobiográficas de uma pessoa também denota possibilidade de relação com a EQM, pois há um relato muito comum entre as pessoas que a vivenciaram em que descrevem o conhecido túnel de luz, onde puderam visualizar um “filme de suas vidas” com eventos de sua biografia.
Entretanto, tudo que o se descreve neste presente trabalho, por ser ainda muito inconclusivo e novo, demanda novas pesquisas e contribuições que venham esclarecer melhor o tema.
Síntese das análises realizada com os dados obtidos
Aqui se apresenta uma síntese das respostas predominantes dos indivíduos (com percentual de 60% ou mais, seja a resposta afirmativa ou negativa) que foram entrevistados, destacando-se suas categorias e subcategorias e analisando além do mais, as respostas singulares e diversas. Se sublinha os aspectos relevantes vinculados à temática em estudo.
A crença na vida após a morte, que representa a subcategoria B.1, já era nutrida pela maioria dos entrevistados (95%) das pessoas acreditam em vida após a morte, entretanto a EQM não os conscientizou do sofrimento mobilizador (75%) o que revelou que a individuação, categoria A, iniciada pela experiência de quase morte se manteve como um processo inconsciente. Algo esperado não apenas porque a individuação é de fato inconsciente, mas pelo sofrimento mobilizador não ter sido notado de forma consciente pelos indivíduos. Contudo, como vimos, são muitos dados levantados nas entrevistas que confirmam um processo de autoconhecimento via individuação.
Entre os indivíduos, 75% demonstraram modificações na função sentimento através da diminuição de sentimentos geradores de angústia e ansiedade, passaram a se dedicar mais à vida sentimental, com isso, observaram um maior propósito de vida, onde os sentimentos norteiam essa busca, assim, pode-se perceber que a subcategoria A.1 no desenvolvimento da função sentimento. A parte afetiva e sentimental contém boa parte das mudanças no estilo vida e na parte atitudinal (subcategoria A.2) promovidas pelos indivíduos, sobretudo frente aos outros e à família. Isso também corresponde a individuação (categoria A) porque se trata de desenvolvimento de função psicológica da tipologia junguiana.
Outro ponto importante que envolve a subcategoria A.1 em relação às funções psicológicas (neste caso a sensação) a subcategoria A.2 em razão de mudanças de hábitos ou atitudes e a subcategoria B.1 (crença na vida após a morte) é o fato de que a visão e o olfato destacaram-se como os sentidos que se modificaram para a maioria dos entrevistados (40%) e ainda que a audição e o paladar representaram apenas 15% das acentuações nos sentidos, isso resulta que para a maioria dos entrevistados, essas acentuações denotam um caráter transcendental, reforçando as crenças espirituais e, consequentemente, a crença na vida após a morte.
No que diz respeito a intuição, enquanto função tipológica, a maioria dos indivíduos entrevistados relataram seu aumento, destacando-se que nenhum disse ter havido diminuição. A crença na vida após a morte (subcategoria B.1) analisada a partir dessa questão, se mostrou mais acentuada em razão dos entrevistados terem associado suas experiências de cunho espiritual ou transcendental à função. Ademais, como na função sensação, a intuição ganha aspectos transcendentais segundo os relatos dos entrevistados de modo que se faz necessário repetir a análise feita em relação a função sensação: a EQM é um fenômeno capaz de provocar um desenvolvimento de caráter transcendental na função psicológicas intuição. Além disso, pela intuição ser uma função psicológica, suas manifestações nos indivíduos mostram também avanços na individuação deles, logo também se refere a subcategoria A.1.
Para significativos 80% dos indivíduos houve algum tipo de ressignificação de papéis como sair de uma situação de dependência ou da depressão, valorizar coisas simples como poder andar ou ler e se relacionar melhor com a família. Esses aspectos não demonstram apenas a orientação da individuação (categoria A), mas também a organização de vida no mundo externo promovida pelo Ego frente a necessidade de adaptações ao novo estilo de vida (subcategoria A.2). Apenas 20%, não perceberam ressignificações, de modo que ainda não entraram em contato com a Sombra. Esses aspectos de uma maioria ressignificando papéis, enquanto uma minoria não o faz demonstra que a queda da Persona se manifesta em conjunção com mudanças de hábitos, atitudes e estilo de vida, mas para a minoria, apesar da queda, há uma resistência em relação a mudanças. Vencer a esta resistência seria entrar em contato com a própria Sombra, fazendo eclodir características inconscientes dos indivíduos que necessitam de mudanças.
Anima e Animus também merecem destaque, pois ficou clara a acentuação de ambos os arquétipos, 40% dos homens e 35% das mulheres (75% do total) enquanto apenas 25% do total não observou tal mudança. Neste caso, as mulheres tiveram menor desacentuação, 5% contra 20% dos homens. Desse modo, é possível concluir que os homens mudaram mais que as mulheres em relação a individuação, subcategoria A.1, portanto.
Os sonhos são outro ponto de relevância, já que 75% dos indivíduos tiveram sonhos com a temática da vida após a morte reforçando a conotação de espiritualidade das vivências dos entrevistados e a semelhança desse tipo de sonho com a EQM, corroborando com subcategoria B.1.
Ver um túnel de luz não foi a mais marcante vivência da experiência de quase morte dos entrevistados, já que 70% sequer passou por ela. Além disso, apenas 20% confirmaram ou acentuaram sua crença na vida após a morte. Desse modo, é possível ter em conta que ver o túnel de luz, apesar de não ser uma das experiências mais comuns entre os entrevistados, a mesma serve como confirmação ou reforçamento da crença na vida após a morte e a forma de relacionar com a experiência foi bastante peculiar para cada indivíduo. A maioria deu uma resposta negativa a questão, porém, como visto anteriormente, a confirmação da crença na vida após a morte ou sua acentuação para os entrevistados se deu em outras vivências da EQM. Ainda que para uma minoria, se manifestou neste caso, a subcategoria B.1.
A experiência fora do corpo mostrou-se uma vivência comum entre os entrevistados, 65% deles. Para 50% dos indivíduos houve a confirmação da crença na vida após a morte, o que se pode relacionar facilmente com perda do medo de morrer de 10% dos entrevistados. Esses dados deixam claro a força da experiência de quase morte e como se ver fora do próprio corpo confirma, para os entrevistados, a subcategoria B.1. Trata-se de viver um símbolo de morte porque o indivíduo se vê como um espírito, tal qual um entrevistado que relatou que havia se conscientizado de que era “um espírito” (sic). Se conclui, portanto, que ressignificaram a crença na vida após a morte que passou a ser uma convicção. O mesmo raciocínio e a mesma subcategoria se aplicam ao encontro com parentes mortos e o encontro com seres de luz, enquanto vivências da EQM. Apesar de serem menos frequentes do que experiência fora do corpo, essas vivências também se mostraram uma experiência marcante e capaz de confirmar aos indivíduos de que sua crença na vida após a morte é verdadeira.
A vivência de recapitulação de vida ou ver o filme de própria vida ocorreu apenas com um indivíduo. Em seu relato, disse que o filme serviu para corrigir suas atitudes inadequadas e que mudou tais atitudes, o que concentrava em ser menos egoísta e pensar mais nos outros, o que corresponde a subcategoria A.2. Ser mais afetuoso ou amoroso, mais empático e menos egoísta ou outros tipos de respostas semelhantes foram muito frequentes em outras questões, sobretudo em naquelas que envolveram os arquétipos Anima e Animus, a função sentimento e caridade. Pode-se concluir que são esses os grandes pontos de mudanças, contudo aparecem em momentos diferentes da entrevista, assim seja pela própria experiência da EQM ou pela individuação, as grandes transformações dos indivíduos se deram na parte afetiva, mas sempre acompanhadas de alguma conotação espiritual.
A partir do momento em que a entrevista entra na subcategoria B.2, dedicação a uma religião, foi possível perceber forma clara a flexibilidade dos indivíduos em trocar de religião ou mesmo se dedicar a mais de uma, o que mostra que suas crenças não dependem de dogmas ou de crenças religiosas, sendo as experiências e a busca pessoal pelas repostas, via religião ou não, aquilo que determina as crenças dos indivíduos. É necessário dizer que essas buscas sempre tem conotação espiritual, mesmo as pesquisas em literatura, já que se tratavam de livros sobre espiritualidade, em sua maioria espírita segundo os relatos dos próprios participantes da pesquisa. Foi perceptível ainda que as mudanças de religião estão relacionadas à categoria A, mais especificamente vemos um maior movimento por autoconhecimento (individuação) através de novos conhecimentos religiosos via função pensamento (subcategoria A.1) além das mudanças de crenças e valores que levaram à mudanças de hábitos e estilo de vida, portanto, denotando relação com a subcategoria A.2.
Na questão 8, ao serem questionados em relação as mudanças de papéis frente a EQM, 80% dos indivíduos apontaram algum tipo de ressignificação de papéis como sair de uma situação de dependência ou da depressão, valorizar coisas simples como poder andar ou ler e se relacionar melhor com a família. Contudo, se observa diferenças nas respostas frente a questão 23, exceto pelo melhor relacionamento em família. Assim, os ritos e rituais têm menor influência nesse sentido das mudanças, isso demonstra que, para esses indivíduos, as mudanças de papéis se relacionam mais com a EQM do que com as religiões. Demonstra-se assim que a categoria A teve maior relevância para os indivíduos do que a categoria B. Isso quer dizer que a espiritualidade, e as mudanças por ela provocada, exercida pelos indivíduos entrevistados está mais pautada em suas vivências pessoais, do que em dogmas ou doutrinas religiosas.
Ressignificação de atitudes em relacionamentos e desacentuação do materialismo em função de ritos e rituais ocorreram para 60% dos indivíduos, que se mostraram influenciados em sua noção de valores, sobretudo frente aos outros e ao seu melhoramento moral. Tais mudanças relatadas estão de acordo com um princípio da espiritualidade muito conhecido, o desprendimento material. Nessas repostas, se nota transformações significativas em relação a espiritualidade, porque se percebe uma dedicação aos outros sem a expectativa de retorno ou recompensa. Os indivíduos ainda manifestaram resignação, ser melhor ética e moralmente e ser menos materialista. Vemos aqui, portanto, uma correlação entre duas subcategorias: a A.2 em razão das mudanças de hábitos, atitudes e estilo de vida e B.2, dedicação a uma religião. Outro ponto importante é que tais ressignificações também estão implicadas nas atitudes frente aos outros, o que necessariamente implica em mudanças na Persona (subcategoria A.1) corroborando com aquilo que foi levantado e analisado nas questões anteriores.
A caridade é um ponto importante da pesquisa, porque está diretamente ligada às principais mudanças dos indivíduos. Como apontado, os aspectos emocionais dos participantes se destacam através de transformações nos arquétipos Anima e Animus e na função sentimento que estão diretamente ligados à individuação (categoria A). Além disso, a caridade, sob o ponto de vista espiritual transcende questões de ajuda social e implica em um desenvolvimento espiritual através de práticas amorosas. Isto posto, a maioria dos entrevistados, 70%, praticam a caridade dentro do contexto descrito nesta tese, conscientes de que não se trata apenas de apiedar-se e ajudar outras pessoas em situação desfavorável do ponto de vista material, mas o exercício de virtudes frente aos outros. Aqui se observa o alinhamento das questões afetivas e sentimentais levantadas (Anima e Animus, mais a função sentimento, conceitos pertencentes à subcategoria A.2) com a caridade que, por sua vez, é pertencente à subcategoria B.2. Ademais, o exercício da caridade em seu caráter espiritual revelou-se como um caminho para os indivíduos desta pesquisa, através do qual se pode ressignificar a dor psicológica.
Em relação a subcategoria A.2 mudanças no estilo de vida também se manifestaram nas repostas e foram motivados por essas mudanças emocionais, o que se entende por um novo direcionamento de vida em razão de lidar com a dor psicológica de forma diferente, o que faz entender que as ações de caridade, para esses indivíduos, serviram como caminhos inconscientes para a individuação, esta da categoria A.1.
Desse modo, a caridade mostra reunir em si mesma as duas categorias da pesquisa, A e B, de forma bem completa, pois envolve todas as subcategorias também. Isso demonstra a forte qualidade da caridade tanto para a individuação, como para a espiritualidade.
Os discursos dos indivíduos sempre apontam para uma maior atenção e combate ao próprio egoísmo através da caridade, revelando-se mais sensíveis e capazes na percepção dos próprios sentimentos e até mesmo suas ambiguidades, bem como uma melhor compreensão dos sentimentos alheios. São dignos de nota os relatos de sentimentos de felicidade e bem-estar, num modo de encarar a caridade como um caminho para combater os próprios sofrimentos. Até mesmo os erros ou falhas alheias são encarados com tolerância ou empatia. Observamos assim, uma inter-relação entre a dedicação a uma religião via caridade (subcategoria A.2) com um melhor manejo dos sentimentos em conformidade a uma melhor relação entre o ego com os arquétipos Anima ou Animus (subcategoria A.1) confirmando uma vez mais o forte desenvolvimento e a ligação entre os conceitos de Anima e Animus, função sentimento e caridade. Isso também mudou a forma dos indivíduos de se relacionar com a religião, como vemos abaixo.
Tratando da subcategoria B.2, 60% dos indivíduos não participam de eventos religiosos e 15% não participam em função do sofrimento mobilizador. Isso expõe como eles estabeleceram sua relação com a religião. Apesar da participação ser mais incomum do que comum, é tratada com a seriedade da verdadeira dedicação em que não há busca do evento religioso apenas para tratar do próprio sofrimento, ao menos não de modo consciente, mas para viver os símbolos que se originam da religião em busca de desenvolvimento espiritual e pessoal e da vivência da caridade.
Não
se pode afirmar que as lembranças de uma EQM são frutos de
conteúdos armazenados de referência biográfica, como descreve a
memória episódica, contudo pode-se sugerir que
esta seria uma hipótese viável em futuras pesquisas.
Outra hipótese viável pode ser atrelada ao psicóide, como um arquétipo do inconsciente coletivo e a EQM um evento comum entre 10% e 20% em pessoas que tiveram uma parada cardíaca e caracterizando-se como a origem da experiência de quase morte fisiológica, o psicóide pode trazer, via fisiologia neural, as típicas lembranças aos pacientes.
O psicóide é um conceito inconsciente e este influencia sobremaneira a consciência. É a memória de um aspecto consciente, o que denota a possibilidade de investigação da relação entre EQM, psicóide e memória episódica.
Desse modo, o material consciente originário de uma experiência de quase morte pode ser relacionado com a memória episódica, porém ainda demanda investigação antes de se determinar qualquer afirmativa a respeito.
O papel da consciência e quaisquer alterações de suas funções durante uma EQM é substancialmente desconhecido, sobretudo pelo fato de as lembranças da experiência serem muito vívidas, o que novamente sugere relação com a memória episódica.
O presente trabalho sugere assim possibilidades viáveis de pesquisas exploratórias que possam trazer maiores esclarecimentos na relação entre a experiência de quase morte, o conceito do psicóide da Psicologia analítica de Jung e a memória episódica tratada em neuropsicologia.
Entende-se assim que a neuropsicologia tem esta e possíveis outras contribuições em pesquisas sobre a experiência de quase morte sob a ótica da Psicologia.
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Anexo
Questionário - Individuação e Espiritualidade na Experiência de Quase Morte
Para que o indivíduo realize a entrevista deve ter passado por uma experiência de quase morte (EQM). Todas as perguntas referem-se ao período pós-EQM, ou seja, depois da experiência de quase morte.
Conte-me como foi sua EQM.
A sua EQM ressignificou sua crença na vida após a morte? Em caso afirmativo, conte-me como.
Os seus pensamentos após a EQM tomam em conta a vida após a morte? Se sim, conte-me como.
Após a EQM, o que aconteceu com os seus sentimentos?
O que aconteceu com as suas sensações após a EQM?
O que aconteceu com as suas intuições após a EQM?
O que aconteceu com seu humor depois da EQM?
O que aconteceu com os seus papéis na vida após a EQM?
Fale-me sobre aspectos de sua personalidade após a EQM.
Você se recorda dos seus sonhos? Em caso afirmativo, que tipos de sonhos você tem?
Você sonha com símbolos? Se sim, poderia descrevê-los?
Durante a sua EQM você viu algo ou alguém que chamou a sua atenção? Se sim, poderia descrevê-los?
Você teve uma experiência fora do corpo durante a sua EQM? Se sim, como foi?
Você teve a experiência de recapitulação de vida durante a EQM (ver o filme da própria vida)? Em caso afirmativo, como foi?
Você tem alguma religião ou outra forma de espiritualidade? Se sim, que tipo de religião ou espiritualidade você exerce?
Você passou a praticar ritos e/ou rituais religiosos após a EQM? Se sim, conte-me como você os pratica?
Os ritos e/ou rituais religiosos ressignificaram suas dores psicológicas? Se sim, como?
Se você realiza ritos e/ou rituais religiosos, pode descrever como ficam as suas emoções e afetos?
Se você realiza ritos e/ou rituais religiosos ou espirituais, pode descrever como fica o seu humor?
Você acredita haver relação entre os ritos e/ou rituais religiosos ou espirituais que você realiza com uma ressignificação de seus papéis na vida? Se sim conte-me como.
Você acredita haver relação entre os ritos e/ou rituais religiosos ou espirituais que você realiza com uma ressignificação de seus valores? Se sim, conte-me como.
Você realiza ações de caridade? Se sim, essas ações tomam em conta um sofrimento mobilizador? Em caso afirmativo, conte-me como.
Se você realiza ações de caridade, o que pode dizer a respeito de suas emoções e afetos?
Como fica o seu humor quando você realiza ações de caridade?
Se você realiza ações de caridade, o que pode dizer a respeito dos seus papéis na vida?
Se você realiza ações de caridade, o que pode dizer a respeito dos seus valores?
Participações em eventos religiosos ou espirituais tomam em conta um sofrimento mobilizador? Se sim, conte-me como.
Se você participa de eventos religiosos ou espirituais, o que pode dizer a respeito das suas emoções e afetos?
Se você participa de eventos religiosos ou espirituais, o que pode dizer a respeito do domínio das emoções e afetos?
Se você participa de eventos religiosos ou espirituais, o que pode dizer a respeito de seu humor?
Se você participa de eventos religiosos ou espirituais, o que pode dizer a respeito de seus papéis na vida?
Se você participa de eventos religiosos ou espirituais, o que pode dizer a respeito de seus valores?
1 UMC – Universidade de Mogi das Cruzes. Psicólogo clínico e organizacional; doutorado em Psicologia pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales de Buenos Aires em 2021 com diploma em processo de reconhecimento no Brasil. Professor universitário desde 2000. Supervisor de Psicologia Clínica em clínica-escola. Especialista em psicoterapia junguiana, simbologia e interpretação de sonhos. Mail: elqueiroz11@gmail.com